quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Feedism e BDSM

O que esses dois teriam de comum?





Já vi em alguns lugares se fazer associações entre práticas S/M – Sado Masoquistas e Feederism. E pra alguns,  algumas práticas feedist podem ser consideradas BDSM. Mas vamos analisar os dois lados e ver se realmente tem a ver e o Feedism pode ser encaixado como uma modalidade de BDSM.

O que é BDSM?

É também considerado um estilo de vida, assim como o Feedism, onde no caso do BDSM há um conjunto de práticas bem extensas que são consideradas dentro do S/M. Assim como o Feedism, o BDSM é mal visto e mal interpretado e seus adeptos são alvos de discriminação muitas vezes, e a grande maioria não se revelam como integrantes do estilo de vida, assim como nós.

 Com o livro (horrível por sinal e criticado pelos BDSM, inclusive); “Cinquenta tons de cinza”, algumas práticas ficaram mais conhecidas e choveu curiosos nas salas de chat sobre Sado e mulheres com fantasias de ser uma Anastácia da vida. Como sempre o povo é atraído pelo modismo. Como sou BDSM e frequento salas de bate papo entre os S/M, atualmente há muitos curiosos e aumentou mais, com a grande repercussão que aconteceu com o livro citado. O que irrita os BDSM mais antigos e que entendem a prática como ela é. O livro passou uma ideia de que tais comportamentos sádicos era um desvio psicológico e passível de tratamento, reflexos de traumas adquiridos na infância e juventude, mas que o protagonista precisava se libertar disso, como se fosse uma doença. E eis que surge a salvadora que irá libertar o amado de tais comportamentos doentios.  O que pra nós, BDSM, é completamente inaceitável. E o livro contribuiu mais para que leigos achem que os sádicos são doentes e precisam de tratamento. Porque as pessoas entendem sadismo como algo que os remetem a Serial Killer e psicopatas. O que não tem nada a ver. Mas o que é realmente BDSM?

É dito como um fetiche, mas pra mim é um conjunto de práticas S/M que lhe conduz a um estilo de vida, assim como o feedism. O termo fetiche é inadequado, porque Fetiche nos remete a apenas uma prática, como o fetiche por pés, seios, grávidas, pessoas idosas, imagens, etc.

 Mas porque um não pode ser associado ao outro?

Para que se estabeleça uma prática BDSM é preciso haver sempre uma relação entre duas partes: um submisso e masoquista e um dominador e sádico. Sem o jogo de sadismo e masoquismo – dominação e submissão, não há S/M (abreviação de sadismo e masoquismo) o termo BDSM só surgiu por volta da década de 90, com grupos de discussões na net sobre as práticas e passou-se a usar o acrônimo que abrange e sintetiza as práticas BONDAGE, DISCIPLINA, DOMINAÇÃO, SUBMISSÃO E MASOQUISMO.  Não há tortura (como se entende leigamente) dentro das práticas e tudo o que ocorre é inteiramente consensual. Existe uma regra de ouro entre os BDSM chamada SSC – são, seguro e consensual. Ou seja, um só bate ou usa de força e dominação, porque o outro tem prazer em apanhar e ser dominado. Cada um com o que lhe dá prazer, certo? Seja como for e suas variações de práticas, tudo no BDSM envolve fantasias de submissão e dominação, masoquismo e sadismo.

Quando eu tive contato com Feedism, mesmo sem ler nada a respeito, nem saber sobre termos, definições, sem saber o que era um feeder, feedee, foodee. Eu entendia primeiramente que era um fetiche, pelo meu conhecimento anterior. E tentava entender os comportamentos dentro do que me era familiar; o S/M. Mas não se encaixava. Levei até o assunto pra amigos experientes dentro do BDSM. E nenhum deles conhecia o comportamento (no caso o comportamento típico de um feeder e uma feedee). Eu não conseguia encaixar porque não havia nenhum traço de sadismo nem masoquismo. Não havia dominação psicológica nem física. E mesmo sabendo que existe dentro do BDSM uma prática embora pouco usada, que envolve comida e alimentação forçada. Esta é uma prática disciplinar e dentro de suas variações há a ingestão de comidas desagradáveis para quem está sendo disciplinado, ou privação, ou forçar a comer mesmo que o outro não aguente mais, como um ato de controle e dominação. É uma forma de punição que se entende como disciplina feito pelos Dommes aos seus servos/submissos. Mas como falei, é algo muito raramente usado e o cerne do ato tem a ver com o prazer de ser dominado, controlado e disciplinado pelo seu dono, e não com a comida em si e prazer em comer e ser alimentado, como é o nosso caso. Então por nenhum ângulo os dois estilos de vida se encaixam nesse tocante.

Porém mais a frente, quando passei a ler, interagir e descobrir tecnicamente sobre o Feederism, achei pontos que PODERIAM converger, digamos assim. Não referente a sadismo e masoquismo, mas a controle e dominação psicológica. Fato, infelizmente, digo infelizmente porque é um tipo de comportamento que eu considero um desvio dentro do feedism. Há feeders que tem personalidade controladora e dominadora. Isso não é do feedism em si, mas traços de personalidade que observamos em algumas pessoas ligadas ao fetiche. Eles querem conduzir seu parceiro a metas que eles estipulam, tabela de alimentação, e tudo é controlado todos os dias. O peso, as medidas, o horário das refeições, a quantidade das refeições, stuffing, force feeding (e não duvido que haja casos onde se é induzido mesmo sem a vontade do outro). E a grande maioria desses de mesmo perfil, desejam ter o controle total de seu parceiro, fazendo com que se atinjam níveis tão altos de obesidade que a pessoa não consiga mais fazer suas tarefas diárias mais simples. Há uma personalidade controladora, egoísta e dominadora de um lado. E do outro uma submissa, passiva e frágil psicologicamente. Ela é envolvida pelo poder de persuasão, e cede a tudo o que o outro a induz fazer. E não percebe que está tendo sua vida inteira controlada por outra pessoa mediante os desejos e caprichos que não são dela. A personalidade dominadora e controladora do outro sufocou a voz do “parceiro e faz com que, o que ela deseja e pense fique em segundo plano, ou em plano algum. As maiores candidatas a isso, são pessoas que sonham em serem cuidadas, ter atenção 24 horas, ter alguém de personalidade forte ao seu lado que diga o que elas precisem fazer e como fazer. São pessoas de personalidade submissa na vida e que se sentem bem em serem controladas e mandadas. O que isso não é via de regra aos submissos dentro do BDSM. Geralmente as pessoas tem fantasias de submissão sexual e servidão, mas na vida são pessoas de personalidade forte e confiantes. Uma coisa são fantasias de submissão e dominação e outro bem diferente é sermos na vida cotidiana. 

Mas o  bônus da felicidade, talvez, para quem é submisso na vida e aceita que outro o controle totalmente, é se sentirem servidas e cuidadas, ter um protetor, um zelador e cuidador. Mas esse tão amoroso cuidador que pode parecer doce e encantador, na verdade tem tendências egoístas e coloca a si mesmo como prioridade. O que ele quer é satisfazer seu objetivo e não o que ambos querem.  Então não existe parceria. Todos os comportamentos que pude observar, ele induz o outro a fazer tudo o que quer pelo bem da relação, pelo amor de ambos, “faça por nós, por mim, pelo nosso amor”. E a outra cede feliz da vida, afinal é seu cuidador quem pede. E pode haver prazer e felicidade nisso, mas é induzido pelo poder de persuasão e sedução e não natural que é do próprio fetiche. E muito provavelmente se a relação acabar, acaba também o fetiche e ela fará de tudo para emagrecer, se não se sentir culpada e se odiar ou odiar o outro por a fez engordar tanto. E eu posso ser radical, mas vejo que existe apenas um fetichista aí. O outro cede não pelo prazer do fetiche, mas pela relação que se estabeleceu. Ela (ele) não tem prazer no ato de engordar e fazer stuffings. Ela tem prazer em dá prazer ao outro, em satisfazer as vontades do outro e seu estímulo é a alegria e satisfação do outro e não seu. Então se a felicidade não é por ela, mas pelo outro, não existe dentro dela, o real fetiche despertado.  

Há dominação, controle, e submissão, mas é um tipo que não se enquadra dentro do BDSM. E com um tempo entendi isso. E vi que não havia convergência.

Porém ai sim, há um tipo de dominação e controle que se encaixa no BDSM e acho que é o único ponto de convergência entre os dois. A dominação e controle sexual infringido a outro. Mas no nosso caso, essa dominação é alcançada  pelo peso corporal durante o ato sexual. Existem feedists que sentem muito prazer e fantasiam ser comprimidos na cama, em ter alguém de grande peso sobre ele (ela) , o esmagando, sufocando e dominando. Um domina e o outro é dominado num jogo de prazer erótico. Pronto; damos as mãos ao BDMS. Porque existem práticas de sufocamento e compressão, chamado de facesitting e trample no S/M, onde o prazer está em sentir o peso do outro quando este, senta no rosto no parceiro provocando sufocamento (facesitting). Ou sentir-se esmagado sendo pisado pelo dominador (trample).  E assim como muitos BDSM que curtem ser imprensados, esmagados e ter seu fôlego tirado, muitos feedists também curtem, embora os mecanismos para isso sejam diferentes. Mas daí vem muitas vezes, a causa que levam alguns Feedists quererem atingir grandes proporções corporais. Para usufruírem de corpos pesados e volumosos na hora do sexo.  


Algumas pessoas acham que o force feeding pode ser considerado um tipo de prática BDSM. Bom aí é uma questão interpretativa pelo visual apenas, mas não pelos elementos envolvidos na prática em si. Porque toda prática BDSM deve haver o essencial; o prazer no sadismo de uma parte e e no masoquismo de outra. Dentro de uma relação de dominação e comando por um, e, subserviência total pelo outro. O force feeding dentro do Feederism não tem a ver com isso. Mas sim o prazer pelo ato de comer, alimentar e ser alimentado pelo outro. Acredito que o uso opcional de bondage seja um mero elemento adicional que pode caracterizar uma fantasia apenas, mas a essência motriz entre os participantes do ato que caracterizaria uma real prática BDSM, não existe.  Da mesma forma o contrário; dois praticantes do BDSM lançando mão de um force feeding com Bondage. Se quem alimenta não é de fato um feeder, e quem está sendo alimentada não é nem um foodee nem um feedee, não haverá o prazer erótico pelo ato de comer e servir o alimento, logo não é uma prática Feedist. 





Então pra finalizar...

O BDSM é um estilo de vida, e o Feedism é outro que não tem pontos de ligação, salvo o levantado acima, que embora o efeito seja quase o mesmo, os meios são outros. O que faz os dois fetiches serem distintos e independentes. Nada a ver um com outro! Não precisamos nos enquadrar como BDSM e nem o contrário. Somos grupos distintos. Fetichistas e adeptos de um estilo de vida sim, mas completamente diferentes uns dos outros.  


3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Desculpe Venus, mas se me permite a curiosidade. Como você associa e vive os dois fetiches? Ou você é apenas pesquisadora do feederism?

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  3. Pedro, sou pesquisadora sobre o Feederism, mas também vivo o fetiche. Quanto ao BDSM não posso dizer que não é algo que esteja em mim e sempre estará, mas no meu atualmente momento estou voltada para relações dentro do Feedism. bjo da Vênus

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