domingo, 4 de janeiro de 2015

Gainers – O desejo de crescer


Saudações Feedists!



Há muito tempo atrás, em matérias não tão distantes, falei que iria escrever sobre Gainers. Fiz uma matéria inclusive, porém não a publiquei, pois não estava satisfeita. Então hoje resolvi reescrever sobre esse assunto que pra mim, não é tão fácil de desenvolver.

Não é fácil primeiro de forma pessoal, pois muitos me chamam de Gainer. E todos sabem que não gosto de me classificar como tal. Embora admita que não deixe de ser.

Há opiniões divergentes de que Gainers não são personagens por excelência de nosso fetiche/estilo de vida.  Enquanto outros acham que sim. Então vamos trabalhar dentro de dois conceitos básicos que existem.

1 – Gainer é um termo genérico usado nos Estados Unidos para referir-se todo aquele que está “ganhando” seja massa muscular ou gordura. Tanto é que quando colocamos nas buscas do Google a palavra Gainer vai aparecer assuntos relacionados aos Bodybuilding (fisiculturistas). E se apegando nisso, alguns acham que Gainer é apenas uma expressão usada em nosso universo feedism, e não um personagem por si só. Dentro dessa ótica, qualquer Feedist, portanto, que esteja ganhando peso, podemos chama-lo de Gainer. Nesse caso, eu seria uma Gainer.
Mas as coisas não são tão simples assim ao meu modo de ver. Há muito mais a ser explorado aí.  Acredito que primeiro não precisamos nos atrelar ao conceito traduzido americano. Já somos atrelados aos vocábulos em língua inglesa, mas não somos obrigados a entender nosso mundo sob a ótica deles. Até porque vivemos culturas muito diferentes.

2 - Conforme fui analisando mais a fundo sobre o tema, fui analisando as pessoas, conversando e observando, entendi que há uma diferença que cria um tipo de “personagem”, digamos assim que difere do outro que também ganha peso e come pra engordar; o (a) Feedee.

O Gainer talvez seja um dos personagens mais difíceis de achar dentre todos do feedism no Brasil e em todo o mundo. E muitos que o são, simplesmente bloqueiam seus desejos ou adoecem de distúrbios ligados a alimentação como a anorexia e bulimia.

Refiro-me as pessoas que tem o desejo nato despertado ou não por um gatilho de engordar e ver seu corpo mudando e tomando novas formas. Esse desejo precisa ser desprendido de interesses materiais, como muitos que entram nesse nosso mundo e engordam  por “profissão” ou outras causas externas. Mas o gainer legítimo não precisa de causas externas para ter seu desejo, muitas vezes, manifestado muito jovem, de engordar. Esse desejo não está ligado a um alimentador, não há a fantasia erótica de ser alimentado, mas de engordar. Os gatilhos podem ser em ver uma pessoa obesa e desejar ter o corpo assim, ou um instinto nato que surge desde a infância de ter um corpo volumoso. Muitas crianças que tem esse desejo, fazem padding (que é a brincadeira de colocar enchimentos sob a roupa pra parecer maior e inflado). A criança não entende porque faz aquilo, mas é algo instintivo de faze-lo e se admirar no espelho. (Eu fazia padding com bexigas de gás; nos seios e barriga).
Mas esse ganho de peso, pode ser ou não atrelado a uma satisfação erótica e sexual, do prazer erótico de sentir seu corpo aumentando de peso, sendo apertado em roupas e ouvir os comentários: “nossa! você engordou”! Ou subir na balança e ver os ponteiros subirem. A alegria e satisfação íntima é certa, mas essa satisfação nem sempre é uma estimulação sexual. Vejo como a satisfação muito próxima dos bodybuildings. Convivi muito com eles e via uma alegria e satisfação com os resultados do trabalho muito grande. Muitos inclusive eram narcisistas e observava uma constante relação entre eles e o espelho. Eu praticava de segunda a sexta e pra mim era sempre um desafio poder aguentar mais peso possível. Mas era sempre chamava a atenção com a postura. E certa vez um professor falou pra mim. “Você quer render mais e corrigir sua postura? Faço todos os movimentos como se estivesse sendo observada por uma plateia que te avalia. Pense que a todo o momento tem alguém te admirando e olhando pra você”. Eu era muito focada em superação de força, mas com isso passei a me focar em exibicionismo, e corrigi minha postura dentro dos exercícios.  Embora eu nunca quisesse ser  bodybulding. Mas a ideia de você ser observada, vista enquanto mexe com seu corpo, desperta nossa vaidade e ego de querer estar e fazer o melhor.    

Os gainers também possuem esse aspecto narcisista de se admirar no espelho, tirar fotos pra exibir ao público ou pra sua satisfação pessoal, em comparar o antes e depois. E ver seu progresso. Isso causa alegria e empolgação. Na maioria em alguns momentos pode ocorrer uma estimulação da libido por isso, mas não é via de regra. Nem todos possuem essa característica. Não saberia afirmar ao certo se todos tem a parte fetichista (a da estimulação sexual com seu objeto de desejo que no caso aqui, é a engorda). Mas é certo que todos têm a engorda como estilo de vida, pois assim como os fisiculturistas direcionam seu modo de vida para o ganho de massa muscular e modelagem do corpo, os Gainers assumidos também.

Mas o que é um Gainer assumido?

É aquela pessoa que já passou da fase da descoberta íntima que não sobre Feedism. Já sabe o que deseja pra si, o que lhe faz mais alegre. Porém saber disso e viver isso, é um salto muito grande. Aos Gainers talvez esteja reservada a parte mais complexa e cheia de conflitos de todos os personagens do Feedism. Primeiro que é ele quem tem que enfrentar muitas barreiras sociais e familiares pra poder dar vazão aos seus desejos. Muitos que são despertos na infância não tem maturidade pra entender e engordam. Se vivem dentro de uma família repressora com relação ao ganho de peso, irá ser obrigado a emagrecer, mas não sem antes ouvir uma série de explicações e sugestões muito negativas com relação a pessoas gordas. E nesse momento é criado um estereótipo de que gordo é feio, é rejeitado, que ninguém quer, é doente, e mal visto, passa vergonha, e outras séries de conceitos que já sabemos. Isso pra uma criança tem um peso muito grande, principalmente se ela for sensível. Ela não entende porque tem que se privar do que lhe dá prazer e lhe faz feliz. Mas acaba cedendo à pressão e tenta a todo custo controlar a vontade de comer pra engordar. Daí pra frente se desenvolve a culpa e a autopunição psicológica e em casos mais graves; físicos, em muitos casos por qualquer episódio onde houver um fracasso de sua parte e ela cedeu a gula. A pessoa come com culpa e dentro desse quadro, desenvolver uma bulimia e mesmo anorexia é muito fácil.

Acredito que estamos agindo contra a nossa natureza desperta e instintiva. E quando fazemos isso, consequências sempre negativas ocorrem.

Então quem é Gainer tem que vencer essas barreiras e procurar uma forma não destrutiva e equilibrada de ceder a sua personalidade, conciliando bem estar, equilíbrio psicológico e seu próprio instinto de engordar.

Primeiro deve se estabelecer a aceitação do que a pessoa é e sente. Depois vem um passo muito complicado que é decidir engordar propositalmente. Isso não é fácil, tendo em vista nossa programação mental social. Mesmo admitindo o que é, engordar dentro da nossa sociedade magra, sabendo que haverá muitas barreiras de aceitação pela frente, não é fácil.

E mais, existe outro ponto chave aí, como engordar e até onde? Muitas pessoas que viveram uma opressão, quando se sentem livres mentalmente acabam num rompante alucinado de engordar e comer desesperadamente. Isso não é positivo também. Tudo que é feito sem planejamento e maturidade de forma totalmente descontrolada acaba gerando consequências ruins. É como se tirássemos as paredes de uma represa e a água do rio acaba livre, mas vindo com tanta força provocando muitas vezes destruição pelo caminho.

Assumir pra si o que é, já é um passo, e depois decidir se vai querer engordar. Como será isso e até onde pretende ir, são consequências de quem leva tudo isso a sério conseguiu uma harmonia positiva consigo mesmo e seus desejos incomuns mediante ao meio social.

Os Gainers quando assumem o que são, não sentem necessidade de ter um feeder e ser alimentados, como falei, não faz parte de seus desejos, mas unicamente a mudança do corpo através da engorda. O que o coloca de forma decisiva definitivamente diferente de uma feedee. Outro personagem que tem que encarar muito conflitos e igualmente raras de se achar no Feedism.

A (o) Feedee tem o desejo de engordar, mas esse desejo não é o cerne total do seu prazer. Ela precisa do feeder. Ela fantasia com o feeder, de forma inconsciente uma vez que sua identidade é desperta, coisa que não ocorre com os Gainers. O despertar de uma feedee começa com o prazer peculiar intenso com a comida. Ela realmente “sente” a comida, sente um prazer diferente das outras pessoas, ou sente um prazer diferente do que não sentia antes, uma vez que foi desperta sua “alma feedee”. Isso gera a vontade erótica de ser alimentada pelo sexo que lhe é atrativo. Mesmo que não tenha tido contato com o feedism, nem saiba o que é um feeder. Instintivamente ela vai desejar ser servida de comida num banquete de prazer e erotismo. Da mesma forma que o Gainer sente em imaginar seu corpo grande e de formas arredondadas e curvas. (embora como dito, nem todo gainer tem nesse imaginar o prazer erótico acompanhando, mesmo que a maioria o tenha).  

Isso cria por si só, dois tipos diferentes de personagens, onde a dinâmica é parecida, mas não igual.

Alguns alegam que essa diferença pertence a própria natureza feedee. Mas eu discordo. Justamente por uma questão muito importante. O Gainer não sente necessidade de um alimentador, por não fazer parte de sua fantasia primaz. Já para uma (o) feedee sim. Pois sua fantasia está atrelada a ser servida e alimentada por alguém. Da mesma forma que um feeder só o é completamente junto de uma feedee, a feedee só o é, com um feeder. É uma dupla praticamente inseparável, onde um completa o fetiche do outro de forma concreta. Pois dentro da fantasia, e da natureza ambos são o que são. Independente da concretização de suas naturezas junto a um parceiro.

Como é algo natural, não adianta entrar na onda de querer ser feeder nem feedee, ou gainer pra ver “como é”. Isso é algo que está internalizado dentro de cada um. Podemos brincar de ser. Podemos até alimentar ou ser alimentada por nossos parceiros como uma fantasia sexual, mas isso não faz ninguém ser de fato feeder nem feedee. Da mesma forma que se um dia eu quiser brincar de Dominatrix (que até depois dos 50 tons de cinzas entrou na moda) com um chicote na mão, isso fará de mim uma Domme BDSM.

Outra coisa bastante perceptível que não é regra, mas é mais comum se ver Gainers homens do que mulheres. Todavia não estou dizendo que não existam mulheres Gainers. Há bastante, mas a doutrina magra grudada com durapox e imposta para as mulheres é muito mais forte do que para os homens, embora eles também sofram. Mas também já conheci algumas mulheres gainers, que não tinha a necessidade nem fantasia ou vontade alguma de ter um feeder. Mas o desejo de engordar era quase que incontrolável. Uma força motriz que as animava a comer com tal objetivo e não se via forças pra ir contra o tal impulso. E outras que desejam um feeder, mas por falta deles, e por sentir a necessidade do prazer intenso em se entregar a comida e engordar por isso, acabam consequentemente engordando. Mas elas se sentem incompletas, pois suas fantasias não são concretizadas e engordar é apenas uma parte de seus desejos mais profundos. A feedee pode passar tempos sem ter a vontade de engordar sistematicamente uma vez sem feeder. Já um Gainer só o faz por força da necessidade, afinal, ninguém pode viver de engordar durante toda sua vida sem parar “pra respirar”.

Mas o fato é que ambos sentem prazer em engordar e desejam isso. Um mais com um feeder e a necessidade de ser alimentada é algo dissociável de sua natureza e psique. O outro não tem a necessidade de um alimentador, não faz parte de sua fantasia desperta, embora possa passar a ter por ocasião. Para um, todo o bojo de seus desejos se concentra em comer pra engordar, enquanto o outro em comer pra sentir o prazer erótico dos alimentos, sentir o sabor invadindo seu corpo e misturar essas sensações com a luxúria partilhada com um parceiro. Engordar é um prazer mais que adicional, é um desejo e vontade de uma conexão sexual com seu corpo maior, mais gordo e aumentando de tamanho e com seu parceiro. E por todos esses fatores que se conectam, gera a necessidade de ser compartilhada com o feeder. E conexão é muito profunda e singular, já que um é o complemento do outro.

Nesse estágio, o de engordar de propósito, há certo  egocentrismo, pois o prazer com o próprio corpo em franca expansão (tanto nos gainers como nos feedees) nos faz sentirmos tão “gostosos” , como a própria comida que comemos, que isso precisa ser exibido a outras pessoas. Os resultados de todo um trabalho de engorda e modelagem do corpo, precisa ser mostrado: “olhem minha barriga, como ela está maior, como eu consegui deixa-la mais linda, olhem essa banha, esse pneu maior”! É um prazer que somente quem é igual lhe entende. O que não dá pra explicar em palavras qual afinal é o prazer de um orgasmo pra quem nunca teve um.

Falo por mim agora! Quando me olho no espelho e vejo que estou mais larga, que o vestido que antes era mais folgado agora está quase justo, que meus braços cresceram de tamanho, meus seios, minha barriga, é uma alegria. Hora parecida com aquela criança que ganhou o presente que esperava no aniversário, hora com aquela pessoa sem um tostão no bolso que achou uma nota de 50 reais na rua. Resultado é: “to rindo a toa”. E todos os comentários que fazem: “menina, você tem o rosto tão lindo, faz uma dieta”, “você não para de engordar, cruzes”, “assim você vai ficar doente”. O que eu gosto de verdade é: “Nooosa! como você tá gooorda”, ou o “Você tá enorme, hein”!

Os outros que dizem nas entrelinhas que eu estou feia, que vou adoecer, que ninguém vai me querer gorda, não me atingem, pois primeiro: faço tudo o que me dá prazer sem me preocupar com outros, os quais em nada somam pra minha vida e alegria. Segundo que quando estamos de bem conosco, tudo que dizem de ruim sobre nós, não tem poder algum de nos abalar.

Mas chegar num nível desses não é fácil por todas as questões sociais e imposições que conhecemos. Além de tudo, acho que é uma questão de personalidade. Isso conta bastante pra estabelecer a conquista da nossa liberdade de afinal, ser e fazer o que quisermos com nosso corpo e conduzir nossas vidas como melhor nos cabe.

E por tudo isso, Gainers e Feedee legítimos são muito raros de achar. Pois é preciso a vontade e mais que vontade, o prazer e alegria em engordar num nível de obesidade. Claro que não falo em chegar a uma ssbbw; isso é relativo. Mas falo de pessoas magras, que apenas querem ganhar uns quilos pra chegar num padrão de corpo estabelecido como “gostoso”, pelo meio. Ser Gainer não é isso, nem Feedee.

Conversando esses dias com um feeder, ele me perguntou quantos quilos eu tinha. E eu falei pra ele que no caso dele, como feeder, a pergunta mais interessante, deveria ser -  “o quanto você deseja engordar”? Pois é justamente aí que se difere feeder de FA. E Feedee e Gainer de uma gulosa que apenas adora comer sem pretensão de engordar, pois não faz parte de sua psique.   

E ainda sobre os Gainer, trago também uma confusão grande que percebo existir com Gainers homens feedists com um grupo da cultura gay chamada de Bears e Chubbys. Acaba por ser confundido que os Gainers possam ser gays e consequentemente por serem gordos e gays, poder ser visto dentro desse grupo. Mas uma coisa nada tem a ver com outra. Existem gainers gays e heteros, e mesmo os gays, podem ou não estar inseridos dentro desse grupo homossexual. Mas o que é válido esclarecer é que ser um gay obeso e qualificado como bear ou chubby, não faz desses serem gainers feedists. Uma coisa não implica a outra. São coisas completamente diferentes. Os Gainers tem o desejo de engordar, já isso não faz parte dos bears nem chubbys. Estes não são fetiches, mas biótipo corporal, características físicas pertinentes à cultura e universo gay. Então acredito que deva existir chubbys que são gainers. Mas ser chubbys ou bears não faz ninguém ser Gainer, nem muito menos gay.   

Em suma, toda feedee é uma gainer em potencial (no sentido semântico da palavra: ganho) pois ganhará peso, mas nem toda gainer é uma feedee.     

Da mesma forma que todo feeder é um FA, mas nem todo FA é um feeder. É extremamente redundante um feeder se declarar FA, pois isso já está inserido no que é ser um feeder. Uma vez que: NÃO EXISTE FEEDER QUE NÃO SEJA FA.

Igualmente, não existe uma feedee que não vá ganhar peso propositalmente, pelo seu prazer e alegria. Pois é justamente ter esse instinto que faz ela ou ele, ser o que é, além da necessidade de um parceiro pra alimentar e compartilhar os resultados dessa alimentação toda.

A ideia de ser chamada de gainer nunca me atraiu, talvez pelo instinto de saber que na prática não passo de uma feedee, onde meu prazer só é pleno quando tudo o que amo, desejo e me enlouquece, é partilhado com um feeder.


Bjo da Vênus!     

           

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