Tem
tempo que não escrevo falando sobre meu mundo feedee de forma pessoal. Mas esse
fim de semana passei por uma situação que nunca mais tinha passado e que me
tocou, bem lá no fundo de uma forma tão minha e incontrolável que resolvi
escrever sobre isso.
Todos
sabem que sou uma pessoa obesa; óbvio. Mas mesmo declarando que acredito a meu
ver que nossa alegria está aos que tem paixão por comida, ceder a essa paixão e
comer mesmo sem aquela culpa de não estar contribuindo pra manter e garantir
perpetuado o padrão de beleza eleito pela maioria dos votos: o magro.
Mas
ao mesmo tempo, eu falo da necessidade de termos a consciência da nossa saúde,
do nosso bem estar físico e tentar equilibrar a alegria com o ganho de peso e a
comida, de forma que isso não nos acarrete em doenças, de não comer tudo o que se
quer todos os dias na quantidade que nossa gula absurda quer, pra não termos
uma alimentação tão pobre e desregulada, de situações desagradáveis por falta
de espaço, de não poder passar pelo corredor de um avião gol classe econômico,
Da dureza que é não poder entrar num aparelho de ressonância quando você
precisa de um exame, etc, etc, etc,
Eu
continuo engordando acredito que a cada mês em engorde umas gramas, mesmo já há
algum tempo não fazendo dieta de engorda. E a nossa vida passa, o dia a dia nos
traz várias coisas a ser vividas, e nossa vida vai passando com todos os elementos
que a compõe. Não vivemos só pensando 24 horas em comer até explodir e engordar.
As vezes tem épocas que ficamos mais focadas em nossos desejos e outras nem
tanto. Não sei, sinceramente que essa variação tem a ver com as variações de
nossa libido, mas o fato é que existe essa flutuações de nossos ímpetos e desejos
com relação ao nosso fetiche/estilo de vida (como queiram).
Estou
no momento disperso... meio Zeca Pagodinho; (Deixa a vida me levar), então
estou suave. Mas não paro de engordar, porque também não tento emagrecer e eu
amo comer. Mas mesmo sem fazer dieta pra engordar, e não muito acesa pra isso,
conservo a percepção de meu tamanho. Porque uma coisa que você não perde é a
percepção e contato com seu corpo. Não tem como não passar por um espelho e não
olhar se as banhas vão balançar, ou se sua barriga cresceu! E essa relação
corpo e desejo íntimo que acende o pavio do: “Ah tenho que engordar agora,
quero fazer crescer essa barriga, essas coxas, etc”.
Todos
nós, de mesma essência digamos assim, passamos por isso!
Mas
voltando ao bojo do que quero falar sobre meu fim de semana, é que existe de
certa forma, um antagonismo que acredito não ser apenas algo particular.
Quem
é realmente obeso sabe algumas dificuldades que temos em algumas questões como
acomodação, locomoção, agilidade, espaço, etc. Isso de certa forma é algo ruim,
e um efeito negativo da obesidade. Isso de certa forma te limita. E leva muitas
pessoas a querer perder peso, e achar que isso faz a qualidade de suas vidas caírem.
E eu não posso dizer que estão errados. Afinal cada um sabe do que lhe incomoda
realmente e se pode mudar, por que não?
Sempre
defendi curtir o que nos dá prazer mas com sobriedade e consciência, Dentro de
padrões da realidade. Porém esse fim de semana houve dois acontecimentos muito
interessantes. Lembram que eu disse que estava meio que em off, deixando as
coisas fluírem no dia a dia. Até porque eu já estou num padrão de obesidade que
requer uma atenção maior e certa reflexão sobre ritmo de engorda.
Minha
vida anda corrida e cheia de trabalho então fazia tempo que eu não saia pra
comer com meu feeder.
Nós
fomos num restaurante que eu adoro; primeiro pela comida e depois porque tem um
espelho que cobre todas as laterais do restaurante que me dá uma visão perfeita
de mim sentada de perfil. Caramba, eu não sei se olho pras comidas que vai e
vem nas bandejas aos clientes freneticamente, se presto atenção no que o
namorado tá falando ou se me olho no espelho e fico babando minhas banhas das
costas caindo, o colete enorme, a barriga e dobras que saltam aos olhos. E fico
pensando empolgada: ”Meu deus como eu to gostosa! Olha isso!”.
Entretanto
nesse dia tinha mais coisas por vir, depois de quase atacar a panela de barro
de feijoada da mesa ao lado( que estava um espetáculo visual), e de dar dezenas
de suspiros a cada batata frita e garfada de filé, eu precisei ir ao banheiro.
E logo que abri a porta, um sorrisinho se abriu em meus lábios pensando: “Nossa,
como vou entrar ai?” Porque o banheiro era pequeno, estreito e a porta se abria
passando pelo sanitário, então ficava quase nada pra você poder entrar. O
espaço que dava entra a porta aberta e o vaso não me cabia. Tentei e não fui. E
eu ria por dentro. Acho que se tivesse pessoas atrás de mim também estariam
rindo, mas por outras razões. E talvez pensando: “a baleia não vai conseguir
entrar ahahaha vai entalar ahaahah!”. Mas eu estava rindo sozinha de tão empolgante
que aquilo era. Eu parei e analisei por onde eu poderia entrar. E vi que
poderia me espremer para a lateral minúscula entre o vaso e a parede pra poder
entrar e conseguir fechar a porta. Me apertei daqui e ali, encolhi a barriga e
consegui! Uau! Consegui entrar num banheiro mega apertado. E enquanto eu fazia
o que tinha que fazer, ficava pensando como foi gostoso me espremer pra entrar
ali e eu só sorria suspirando.
Bem,
mas estava pra vir à segunda etapa da aventura. Conseguir sair de lá! Encolhi-me do lado do sanitário e tentei abrir
a porta. Entalei! Não passaria daquele jeito, e pensei: “cara, se eu tivesse
deixado essa bolsa enorme lá, talvez fosse mais fácil, mas vamos lá gorda! Nada
de apavoramento! Foi ai que pensei em sentar no vaso e encolher as penas, mas
deu preguiça e naquele lugar super claustrofóbico, ter que sentar com meu peso
num vaso sanitário que também era pequeno e encolher as pernas para a barriga,
tentando abrir a porta não ia rolar. Se fosse coisa de dez anos atrás talvez eu
conseguisse esse encolhimento de pernas, mas com o tamanho que minhas pernas e
barriga estão hoje, melhor nem tentar. Ai olhei a minha volta e fui pro canto
da parede da porta de entrada, porém a porta não abria comigo ali. A pança não
deixava. Ai eu ri mesmo!
Dei
nova avaliada no ambiente... respirei e me contorci pra trás do vaso, me
inclinando pra trás o máximo que eu conseguia e abrindo a porta ao mesmo tempo.
Ufa! Passou... Consegui abrir totalmente a porta pra poder sair. E deu certo. E quanto eu lavava as mãos, era inevitável não
sentir uma leve, talvez grande satisfação de ter atingido um tamanho que tenha
dificuldades desse porte pra usar um banheiro público. Foi a mesma satisfação
que senti ao fazer uma viagem de avião e fingir que estava com o cinto
afivelado so deixando ele envolta da barriga bem disfarçadamente, uma vez que não
consegui nem por mil cacetes afivelar o bendito cinto de segurança. Quem disse
que a pancita deixava?! E eu lembro que lembrei indignada nesse dia. Mas que
avião tosto! E as grávidas não podem usar cinto de segurança? Mas eu lembrei
que as grávidas geralmente tem uma barriga muito grande e pontuda, mas não são caídas,
e elas conseguem afivelar usando o cinto bem na parte de baixo da barriga. O
que já não pode ser meu caso por uma questão obvia; a minha barriga é de gorda,
e não de grávida, embora eu sempre vá pra fila preferencial ahahahaha!
Quando
eu voltei a mesa, claro que tive que compartilhar a aventura do banheiro com
meu feeder, mas o mais curioso é que o sabor da batata mesmo já fria, estava
muito melhor! Deu-me vontade de comer mais e mais até não conseguir de jeito
nenhum entrar naquele “toalete”!
Eis ai um antagonismo muito intrigante! Esbarrar nos móveis pois o ambiente está apertado pelo nosso tamanho, entalhar, e não passar entre espaços que outras pessoas passam tranquilamente, pode ser constrangedor, mas ao mesmo tempo... mexe, remexe e nos inspiram, excitam de uma forma ainda não compreendida. Talvez por ser a constatação de uma conquista aos gainers; "Engordamos de verdade afinal"!
E
depois de tudo isso, com eu olhava com olhos malicioso e gulosos, cheios de
ótimas intenções pro meu feeder. Até me fez ficar mais carinhosa, dengosa, fitar
nos olhos dele enquanto fazia um carinho em seu braço e pensar “ ai Deus... que
homem irresistível” !
Bem....
e nesse exato momento estou lembrando com tudo isso, de Cazuza e Frejat:
“Mais
uma dose, é claro que eu to a fim
A
noite nunca tem fim
Por que
a gente é assim?
Agora
fica comigo
E vê
se não desgruda de mim
Vê se
ao menos me engole
Mas não
me mastigue assim
Canibais
de nós mesmo
Antes
que a terra nos coma
Cem gramas
Sem
dramas
Por
que a gente é assim?”
Não sei se vou entrar da fase do: Puro “Ecstasy”.
Mas enfim; “Por que a gente é assim?”
Vênus Willenford
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